16 de julio de 2024
Tecnologia digital aplicada à educação: caminho sem retorno
Profa. Dra. Roberta Flaborea Favaro
A palavra “tecnologia” tem raiz no grego “techné”, que significa técnica, arte, ofício ou habilidade. Está relacionada com a experiência, enquanto que “logia” vem de estudo. Assim que, “tecnologia” significa a valorização ou o estudo de certa habilidade ou experiência práticas.
Retomando a história, a pedra lascada poderia ser considerada tecnologia, pois foi desenvolvida pelos nossos ancestrais na pré-história com o objetivo de caçar, recolher alimentos, defender-se de outros animais, além de outros usos. Naquele momento foi um grande avanço para a humanidade, e transformou a história, pois promoveu a melhora das condições de sobrevivência do ser humano em um mundo inóspito. Tecnologia, neste sentido, é um conceito amplo e genérico: colocar em prática algo pensado pelo ser humano para melhorar a vida e resolver problemas práticos. Pontes, lâmpadas, edifícios, carros, máquinas de lavar, ferros de passar roupa, tesouras, televisões, ventiladores, e mais recentemente, computadores, smartphones, aplicativos etc., todos são considerados tecnologia. Essas ferramentas nem sempre estiveram ali, e é o resultado de pesquisa, estudos, acertos e erros dos seres humanos.
Desse modo, a história das tecnologias aplicadas à educação também não é algo recente. Em cidades pequenas e povoados recorria-se às cartas, ao rádio ou à televisão, tecnologia análoga, e eram, para muitas pessoas, o único acesso à educação. Hoje, em quase 40 países ainda é utilizado o ensino pelo rádio. No México, por exemplo, recentemente um programa educativo televisivo com apoio presencial aumentou em 21% a matrícula nas escolas do ensino médio (UNESCO, 2023). E, vale relembrar a educação em época de pandemia causada pela Covid-19, em muitos casos, teve o apoio tecnológico digital, computadores, aplicativos, smartphones, entre outros, que promoveram a reunião entre pessoas, entre outras ações pedagógicas.
Frente a este panorama, é comum escutarmos que a educação e a tecnologia são grandes aliadas nas aprendizagens, que já não existe educação sem tecnologia, assim como a tecnologia veio para a inclusão e o apoio das questões individuais dos alunos. Parece um exagero as afirmações anteriores, mesmo assim se vê muitas escolas, professores e meios de comunicação difundindo a ideia de que a tecnologia aplicada à educação é a garantia de qualidade e sucesso.
Apesar de concordar no melhoramento da educação, dependendo do contexto, com o apoio das tecnologias de informação e comunicação, estudos rigorosos sobre o tema ainda não foram realizados e, portanto, não existem evidências científicas que possam fundamentar os benefícios exatos desse fenômeno. Mesmo por que, em média os produtos de tecnologia educativa mudam a cada 36 meses (UNESCO, 2023), o que seria difícil medir a aprendizagens dos alunos e definir se realmente as ferramentas são efetivas para as aprendizagens.
Efeitos positivos na educação podem ser notados de maneira empírica, especialmente na motivação dos alunos enquanto a realização de trabalhos em grupo, em duplas, e a nível individual. Também, a tecnologia digital está aumentando o acesso a recursos de ensino e aprendizagem, como acessos a bibliotecas, museus, informação, antes restrito a muitas pessoas. Gravações de aulas podem ser acessadas por alunos de zonas rurais e a democratização do acesso à informação, apesar de superficial, pode ser considerada uma realidade.
Como professores, devemos também revisar os desafios sobre o tema. A tecnologia digital na educação apoia na aprendizagem de habilidades básicas, como identificar e conhecer, mas não em habilidades avançadas, como avaliar, analisar, criar, planejar, entre outros (Bloom, 2024). No relatório da Unesco (2023), um exame de 23 aplicações de matemática utilizada no ensino básico demonstrou que se centravam em exercícios e práticas para as habilidades básicas, apesar da necessidade de avançar em aprendizagens mais complexas. Também, a utilização das tecnologias pode ser inapropriada ou excessiva e pode causar efeitos negativos nos processos de aprendizagem, como a pouca autonomia de realizar contas sem calculadoras, análises de textos, construção de textos etc.
Portanto, em um novo mundo chamado VUCA (sigla em inglês representando as palavras volatilidade, incertezas, complexidade e ambiguidade), e consequentemente a Eduação 4.0, o papel do professor muda significativamente. Ao invés de “dar” conhecimento, o professor deve arquitetar processos de ensino e aprendizagem otimizados pelos produtos oriundos da tecnologia digital, tais como os aplicativos, ferramentas de gravação de áudio, vídeo e realizar apresentações, revisão gramatical, as inteligências artificiais etc. Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), Aprendizagem Invertida, Estudos de Caso, Design Thinking, entre outras estratégias, são levadas em consideração na Educação 4,0. O docente deve ter critérios rigorosos, refletidos desde as necessidades de aprendizagens dos seus estudantes, para escolher os recursos educativos, e especialmente os digitais, em suas aulas.
Visto que muitos professores sentem receio de aplicar a tecnologia em suas aulas, seja por falta de letramento digital, seja pelos poucos critérios para planejar suas aulas, pelo sentimento de solidão em seu trabalho ou mesmo por desconhecimento de ferramentas digitais, é necessário investir em formação docente in situ, afiançar e promover as competências e habilidades com o uso das tecnologias por parte dos professores, e construir uma rede de confiança, trocar e experiências entre os professores. O planejamento e o intercâmbio de ideias com outros docentes ganha indiscutível relevância no cotidiano do professor. Portanto, a escola também deve promover o grande apoio entre os próprios docentes, incentivando a consolidação da “família profissional” (Tejada-Fernández, 2009). Com essas estratégias os professores, arquitetos de processos de aprendizagem conseguem realizar trabalhos mais críticos, levando em consideração as necessidades reais do contexto de seus estudantes.
Portanto, nesta nova realidade da Educação 4.0, não é só o planejamento de aulas criteriosas que o professor deve saber fazer, mas também desenvolver competências e habilidades de learning analytics, entender os princípios dos serviços de nuvens, realidade aumentada, simuladores, entre outros conceitos, apoiados na sua família profissional. A adaptabilidade do professor em afrontar novos desafios é algo fundamental. Este é só o início de uma grande revolução educativa. Ainda teremos mais!
Referências bibliográficas:
Bloom’s Taxonomy. (n.d.). Bloom’s taxonomy: The ultimate guide. Acezada en Junio 27, 2024, del sitio electrónico https://www.bloomstaxonomy.net/
Tejada-Fernández, J. (2009). Competencias profesionales. Profesorado – Revista de currículum y formación del profesorado, 13(2), 1-15.
UNESCO. (2023). Technology in education: A tool on whose terms? United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.