28 de febrero de 2025
A tecnologia de informação e comunicação na educação básica: pontos importantes de discussão
Prof. Dra. Roberta Flaborea Favaro
Compreender o impacto da tecnologia nos processos educativos é um desafio complexo e ainda carente de respostas definitivas. Diretores, coordenadores e familiares se questionam constantemente sobre os efeitos das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na educação, mas poucas respostas são encontradas, pois trata-se de um campo de pesquisa relativamente recente na área de educação.
A tecnologia evolui, em média, a cada 36 meses, o que exige pesquisas rápidas para compreender as aprendizagens das crianças com o apoio dessas ferramentas, conforme aponta a UNESCO (2023). No entanto, realizar estudos com essa velocidade e acompanhar o desenvolvimento das crianças é um desafio para pesquisadores, em especial aqueles vinculados a universidades públicas e privadas que frequentemente enfrentam limitações orçamentárias e processos burocráticos morosos. Atualmente, as pesquisas mais dinâmicas são realizadas por empresas que comercializam produtos tecnológicos, resultando, muitas vezes, em análises tendenciosas (UNESCO, 2023).
No contexto escolar, observa-se que a tecnologia ainda não está sendo plenamente explorada nas atividades educacionais. Muitos estudantes ingressam na pós-graduação reconhecendo suas limitações e expressando dúvidas significativas sobre o uso de recursos digitais. Essa lacuna pode ser atribuída a diversos fatores, como a insuficiente formação dos professores para o uso pedagógico da tecnologia — a maioria não é nativa digital —, a falta de conectividade em regiões remotas e a carência de dispositivos tecnológicos em muitas escolas. Esses desafios acentuam a desigualdade entre escolas públicas e privadas, tornando as diferenças de aprendizagem ainda mais evidentes.
Além disso, a falta de planejamento adequado pode levar a um uso indiscriminado da internet, com professores orientando os alunos a realizarem pesquisas online sem diretrizes específicas. Quando mal planejado, o uso dos dispositivos tecnológicos pode promover o individualismo em detrimento da cooperação, empobrecendo as interações humanas e ampliando a desigualdade digital.
Outro ponto de preocupação levantado pela UNESCO é o impacto do tempo excessivo de exposição às telas na rotina das crianças, afetando aspectos como alimentação, sono, saúde ocular e bem-estar mental. O grande desafio é determinar em que medida e em quais contextos a tecnologia pode ser uma aliada ou um obstáculo ao processo educativo.
A resposta está no planejamento detalhado das aulas pelos professores. Embora inicialmente demande mais tempo, essa prática se torna um exercício controlado e eficiente a longo prazo. Com critérios específicos de seleção de aplicativos e sites, os professores podem desenvolver aulas muito mais acertadas para a construção da competência digital.
Do ponto de vista dos estudantes, há um debate crescente sobre o impacto da conectividade na aprendizagem, especialmente no uso de celulares em sala de aula. Recentemente, o governo brasileiro iniciou discussões sobre esse tema, culminando na promulgação da Lei 15.100, em janeiro de 2025, que proíbe o uso de celulares nas salas de aula em nível nacional, exceto para alunos com deficiência, com a tecnologia assistiva. A regulação do uso do celular nas escolas tem se tornado prioridade, sendo adotada por mais de 10 países, incluindo México, Finlândia, Holanda, Portugal, Espanha, Suíça, Estados Unidos, Letônia, Escócia, Canadá, França, Uzbequistão, Guiné e Bangladesh. Em um futuro breve, outros países entrarão nessa lista.
Considerando a crescente presença da tecnologia em nossas vidas, é essencial fomentar a competência digital nas escolas, mas de maneira planejada e crítica, em colaboração com toda a comunidade escolar. Dessa forma, questiona-se se medidas como a proibição do uso de celulares em sala de aula são realmente a solução mais adequada para este momento. Como garantir o desenvolvimento das competências digitais necessárias para a vida acadêmica e profissional se a tecnologia se estas forem abolidas em contextos educativos?
Outros temas também devem ser levados em consideração para uma discussão profunda do tema:
- A formação docente para o uso eficaz da tecnologia na educação – como formar os professores para entender a aplicar esta nova proposta educativa.
- A educação midiática e informacional, preparando alunos para interpretar criticamente conteúdo online.
- Modelos híbridos de ensino, que combinam o presencial e o digital para otimizar a aprendizagem. Esta é uma tendência cada vez maior e os alunos devem ser formados para entendê-la.
- A gamificação e a aprendizagem baseada em projetos, como estratégias para tornar o uso da tecnologia mais engajador e significativo.
- A inclusão digital e acessibilidade, garantindo que todos os alunos tenham acesso equitativo às TIC.
A reflexão sobre essas questões é essencial para que a tecnologia na educação seja mais do que um recurso complementar, tornando-se um elemento transformador e integrador do processo de ensino-aprendizagem.
A discussão sobre o uso de tecnologias na sala de aula deve ser massiva, envolvendo todos os sujeitos que fazem parte de processos educativas, como diretos, coordenadores e professores, mas também pais, fazedores de políticas públicas, entre outros. A ideia não é entrar em consensos, mas sim deixar crenças e clichês de lado e pensar no melhor para a construção de conhecimentos para os nossos alunos.
Bibliografia
UNESCO. (2023). Relatório de Monitoramento Global da Educação – Resumo: Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem? UNESCO. https://www.unesco.org/reports/gem-report/2023/pt